Perguntas mais frequentes sobre curatela (interdição judicial)
Escrito por: Angelo Mestriner
O que quer dizer interdição judicial?
Embora o termo interdição ainda seja utilizado pela legislação processual brasileira, busca-se com o estatuto da pessoa com deficiência atualizar a referida expressão com palavra 'curatela'.
A intenção é assegurar à pessoa com deficiência o direito ao exercício de sua capacidade legal. Vai daí que a expressão 'interdição' carrega outra conotação, qual seja: incapacidade plena para prática dos atos existenciais e patrimoniais.
Qual o objetivo da interdição?
A gestão patrimonial tem como objetivo garantir que o interditado participe na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas, uma vez que sua deficiência, sem representação legal, representa um óbice a essa interação.
Os cuidados pessoais tem como objetivo garantir o bem-estar do interditado, conferindo-lhe a autonomia do deficiente para o exercício de suas necessidades afetivas, sociais, educacionais e de saúde.
A interdição pode ser compreendida como medida extrema?
A interdição pode ser parcial?
A pessoa sujeita à interdição é considerada absolutamente incapaz ou relativamente incapaz?
Portanto, indivíduos sujeitos à interdição são considerados relativamente incapazes, segundo a legislação vigente, o que significa que podem necessitar de assistência para certos atos da vida civil, mas não para todos.
A curatela pode ser compartilhada?
Nesse sentido, é possível que pai e mãe, por exemplo, possam ser curadores do filho maior que, por causa transitória ou permanente, não pode exprimir sua vontade.
Quais são as pessoas sujeitas a interdição?
A pessoa drogada pode ser interditada?
O alcoólatra pode ser interditado?
Uma pessoa com Alzheimer pode ser interditada?
Nesse sentido, uma pessoa com Alzheimer pode ser interditada, especialmente à medida que a doença progride e afeta sua capacidade de tomar decisões e gerenciar a vida diária.
Uma pessoa com Esquizofrenia pode ser interditada?
Uma vez apurado que, mesmo diante da realização de tratamento médico e medicamentoso adequado, o poder de cognição para os atos da vida civil de uma pessoa esquizofrênica está comprometido, é possível requerer a interdição para que os interesses dessa pessoa sejam salvaguardados em sua plenitude.
Uma pessoa que sofreu AVC - Acidente Vascular Cerebral - pode ser interditada?
Uma pessoa com autismo pode ser interditada?
A interdição é considerada quando uma pessoa com autismo enfrenta desafios substanciais que comprometem sua capacidade de tomar decisões seguras e cuidar de seus próprios interesses de maneira independente.
Uma pessoa com síndrome de down pode ser interditada?
A interdição é considerada quando se verifica que a pessoa com síndrome de Down não possui capacidade suficiente para tomar decisões de forma segura e autônoma, especialmente em relação a questões financeiras e de saúde.
Uma pessoa com síndrome de Asperger pode ser interditada?
Nesse sentido, uma vez apurada que a saúde mental da pessoa com síndrome de Asperger está comprometida no sentido de limitar seu poder de cognição para os atos da vida civil, estaremos diante de um caso de possível interdição ou tomada de decisão apoiada para que os interesses dessa pessoa sejam salvaguardados em sua plenitude.
Um idoso pode ser interditado?
Nesses casos, deve-se investigar cuidadosamente se a capacidade cognitiva do idoso está realmente comprometida. Caso afirmativo, pode-se considerar a interdição ou a tomada de decisão apoiada para proteger os interesses do idoso de forma completa.
Portanto, se a interdição for necessária devido a condições como demência avançada ou Alzheimer, é crucial entender que a causa é a condição de saúde e não a idade por si só.
O pródigo pode ser interditado?
Uma pessoa que se endivida muito pode ser interditada?
A interdição é uma medida legal grave, geralmente reservada para casos em que há incapacidades mentais ou físicas que impedem o indivíduo de gerenciar suas próprias vidas e tomarem decisões seguras.
No entanto, se a forma de contrair dívidas for extremamente imprudente e colocar em risco o sustento próprio ou de sua família, a situação pode ser considerada sob o aspecto da curatela para pródigos.
Este tipo de curatela é específico para casos onde a gestão dos bens da pessoa é feita de maneira a comprometer gravemente sua estabilidade financeira e a de seus dependentes.
A interdição exige prova da incapacidade mental do interditando?
Se o perito concluir que o interditando não sofre de qualquer patologia que afete o seu juízo e discernimento, o juiz julgará pela improcedência do pedido de interdição.
A incapacidade de trabalhar é suficiente para justificar a interdição de uma pessoa?
Portanto, a pessoa pode ser incapaz para trabalhar (incapacidade laborativa), mas ser plenamente capaz para praticar os atos da vida civil.
Por exemplo, uma pessoa que sofre um Acidente Vascular Cerebral - AVC - pode ter sequela relacionada a redução dos movimentos cuja implicação resulte na incapacidade laborativa, sem afetar ou comprometer, por outro lado, sua capacidade de pensar e manifestar sua vontade.
O interditado pode trabalhar?
A interdição geralmente se aplica à gestão de finanças e à tomada de decisões legais complexas, mas não impede necessariamente que a pessoa desempenhe funções laborativas.
É importante que qualquer atividade profissional esteja de acordo com as capacidades do interditado e que haja um ambiente de trabalho que o apoie adequadamente.
O interditado pode assinar, rescindir contrato de trabalho e receber salários?
O interditado pode ter conta corrente em banco?
O interditado pode votar?
O interditado é obrigado a se alistar no exército para o serviço militar?
O interditado pode casar?
O interditado pode adotar?
O interditado pode propor ação de guarda ou visitas em favor do filho?
Portanto, mesmo que a pessoa esteja interditada para fins de administração de bens ou outras decisões financeiras, ela pode buscar judicialmente a guarda ou o direito de visitas, focando no melhor interesse da criança.
O interditado pode ser sócio de empresa?
A interdição não remove automaticamente o direito de possuir ações ou quotas de uma empresa, mas limita a capacidade do interditado de tomar decisões de gestão diretamente.
Para as decisões de negócios e qualquer ato que requeira capacidade civil plena, o curador atuará em nome do interditado, garantindo que os interesses deste sejam adequadamente representados e protegidos.
O patrimônio pessoal de um interditado, que é sócio de uma empresa, pode ser responsabilizado por dívidas trabalhistas da empresa?
Como o interditado não pode gerenciar seus próprios assuntos legais e financeiros sem a assistência de um curador, é improvável que ele seja considerado pessoalmente responsável, a menos que tenha cometido atos antes da interdição que justifiquem tal responsabilidade.
A propósito, o Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região abordou esse tema especificamente, concluindo que um sócio incapaz não pode ser responsabilizado com seu patrimônio pessoal pelos créditos trabalhistas da empresa da qual faz parte, devido à sua impossibilidade de participar da gerência da empresa.
Esta isenção se aplica, a menos que, na época da constituição da empresa e durante a duração do contrato de trabalho em questão, o sócio fosse capaz de realizar atos da vida civil.
O interditado pode ser inscrito como dependente no plano de saúde da empresa que o curador trabalha?
Contudo, considerando os institutos protetivos dos interesses daqueles que se encontram em situação de incapacidade na gestão de sua vida, existe uma tendência de se admitir que a pessoa interditada tenha direito de ser declarada como dependente no plano de saúde da empresa que o curador trabalha.
Guardada a particularidade de cada caso, o Tribunal de São Paulo teve oportunidade de enfrentar esse tema, destacando em acórdão que "a ausência de menção específica ao curatelado no contrato não pode ser interpretada como excluídos da cobertura do plano de saúde, ante a similitude dos institutos da tutela e curatela. Tais institutos têm a função primordial de proteção dos incapazes para a vida civill, ou seja, daqueles que não têm condições de proverem suas necessidades básicas.".
O Tribunal ainda destacou: "Em que pese o réu alegar que a admissão de curatelados como beneficiários representaria a inclusão de beneficiário não previsto em contrato, é certo que ao interpretar as cláusulas contratuais, o Magistrado o faz segundo à sua finalidade social, o que não implica desrespeito ao pacta sunt servanda.".
A interdição é irrevogável (definitiva)?
É possível solicitar que o Cartório de Registro Civil não divulgue publicamente informações sobre a interdição e seu respectivo levantamento?
No entanto, a divulgação dessas informações pode entrar em conflito com o direito à privacidade do indivíduo registrado, podendo resultar em situações de constrangimento ou discriminação. Neste contexto, é possível argumentar a favor do direito ao esquecimento e da prioridade dos princípios de dignidade humana para solicitar que tais informações sejam omitidas, sendo divulgadas apenas sob ordem judicial.
Importante ressaltar que, em novembro de 2020, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul emitiu uma decisão que permite restringir a publicidade das anotações de interdição e seu levantamento, exceto quando houver uma ordem judicial específica que autorize a divulgação.
Quais são as pessoas autorizadas a solicitar a interdição de uma pessoa?
- Cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato;
- Pai ou a mãe;
- Qualquer parente;
- O Ministério Público, quando as pessoas mencionadas anteriormente não estiverem disponíveis ou não existirem.
Quem pode ser nomeado curador da pessoa interditada?
- Cônjuge ou companheiro(a): É comum que o cônjuge ou o companheiro seja nomeado curador, desde que não esteja separado judicialmente ou de fato.
- Parentes próximos: Parentes como filhos, pais, ou irmãos também são frequentemente considerados para a função de curador, devido à proximidade familiar e ao conhecimento das necessidades do interditado.
- Terceiros: Em casos onde não há familiares disponíveis ou adequados, uma terceira pessoa, como um amigo próximo ou um profissional qualificado, como um advogado, pode ser nomeado, ainda que esta pessoa, em um primeiro momento, não esteja no rol de pessoas que tem legitimidade para propor ação de interdição.
Quais são as principais responsabilidades atribuídas a um curador na gestão dos interesses de uma pessoa interditada?
O curador também tem a função de salvaguardar o bem-estar do interditado de modo a garantir a autonomia do deficiente para o exercício de suas necessidades afetivas, sociais, educacionais e de saúde do curatelado.
Quais atos praticados pelo curador precisam de prévia autorização judicial?
Um idoso interditado tem direito a manter convivência familiar com outros parentes?
É fundamental que o curador promova e facilite esses contatos, visto que a interação com a família contribui para o bem-estar emocional e psicológico do idoso. A preservação de relações familiares é considerada uma parte essencial do respeito à dignidade e aos direitos humanos do interditado.
O curador precisa de autorização judicial para vender um imóvel de propriedade da pessoa interditada?
Deve-se solicitar a autorização para alienar um bem imóvel ou móvel dentro do processo de interdição ou em um processo separado?
Contudo, alguns Tribunais entendem que é possível requerer alienação e expedição de alvará nos próprios autos da ação de curatela.
Nesse sentido o Tribunal de Justiça de Minas Gerais enfrentou o tema e assim se posicionou:
"Prefacialmente, cabe ressaltar que o pedido de alienação de bens não se confunde com o objeto principal da ação de curatela. Assim, em que pese ser possível a análise de eventual pedido de alienação e expedição de alvará nos próprios autos da ação de curatela, trata-se de situação excepcional, em que se deve observar o melhor interesse do curatelado, a real necessidade e vantagem da alienação, bem como se deve evitar que tal medida gere tumulto processual. [...] Firmadas estas premissas, verifica-se que não se trata de uma questão de alta indagação, motivo pelo qual se entendeu, quando da decisão inicial de recebimento do presente recurso, pela possibilidade de o magistrado a quo apreciar tal pleito sem que a questão principal, qual seja, a curatela, reste prejudicada ou tumultuada. Este entendimento encontra amparo nos princípios da celeridade, da economia processual e da razoabilidade."
O curador deve prestar contas durante o exercício da curatela?
Por outro lado, a prestação de contas é dispensada quando se apura que a pessoa interditada não possui patrimônio.
Como ocorre a prestação de contas na interdição?
Maiores informações, clique no link para ler o artigo: Deveres do curador: prestação de contas do curador do interditado ao Ministério Público e Poder Judiciário.
O que acontece se o curador deixar de prestar contas ou prestar contas de forma inadequada?
Essas medidas asseguram que os direitos e o patrimônio do interditado sejam protegidos, mantendo a integridade do processo de curatela.
O curador pode ser remunerado para exercício da função?
O curador pode ser substituído?
O que acontece quando o curador falece?
Quais são os passos recomendados para um curador após a emissão da sentença que declara a interdição de uma pessoa?
Da mesma forma, é crucial que o curador desenvolva um plano de gestão para cuidar e administrar os bens e as necessidades do interditado. Isso inclui a preparação para as prestações de contas periódicas ao tribunal, com documentação detalhada de todas as receitas e despesas vinculadas ao patrimônio do interditado.
Como é determinado se o interditando possui realmente uma deficiência?
O que quer dizer tomada de decisão apoiada?
Qual a diferença entre interdição e tomada de decisão apoiada?
Já na curatela (interdição), o curador será a pessoa quem administrará os bens do curatelado, de modo que a tomada de decisão do interditado nos atos de gestão patrimonial carece de eficácia.
É possível converter uma ação de interdição em tomada de decisão apoiada?
O que o estatuto da pessoa com deficiência trouxe de novidade?
Nesse passo, a principal delas é o abandono da ideia de que deficiência é sinônimo de incapacidade absoluta, por essa razão reduziu o rol de pessoas absolutamente incapazes deixando apenas os menores de 16 anos.
A lei, portanto, estabelece que a deficiência não afeta a capacidade civil, e qualquer restrição deve ser aplicada de forma proporcional e específica, privilegiando formas de apoio e não de substituição na tomada de decisões.
O curador pode revogar o testamento da pessoa interditada?
No entanto, existe uma discussão jurídica sobre o fato de se apurar se o testador estava no pleno exercício de sua capacidade mental à época que confeccionou o testamento.
Além disso, o testamento é ato que cumpre sua finalidade somente com a morte de quem o realizou e qualquer vício ou nulidade deveria ser arguido por quem, em tese, restar prejudicado pelo ato de disposição de última vontade, uma vez que intenção do testador apenas se perfectibiliza no momento da morte.
Quais os casos mais comuns para propositura da ação de interdição de uma pessoa?
Quais são os documentos obrigatórios para ajuizar uma ação de interdição?
1) comprovante de residência do(a) requerente;
2) certidão de casamento ou nascimento do(a) requerente (até provar o parentesco com o interditando e a legitimidade para a ação);
3) CPF e RG do(a) requerente;
4) registro de nascimento ou casamento do interditando;
5) atestados médicos com o nome e o código da doença (original);
6) nome, endereço, profissão, CPF e RG do interditando;
7) comprovante de recebimento da aposentadoria do interditando junto ao órgão competente;
8) declaração negativa de dependentes;
9) documentação relativa a aplicações financeiras, veículos e imóveis.
É obrigatório constituir advogado para propor uma ação de interdição?
Quanto custa uma ação de interdição?
As custas do processo compreendem pagamento de taxas, honorários de peritos e honorários de sucumbência, se houver. Os valores das custas estão previstos no Tribunal de Justiça, variando conforme o Estado da Federação.
Os honorários advocatícios variam de acordo com a experiência, competência, qualidade de especialista do advogado contratado e complexidade da causa, sempre obedecendo um valor mínimo de honorários estabelecido pela Ordem dos Advogados do Brasil.
Quais são os honorários advocatícios em uma ação de interdição?
No estado de São Paulo, no ano de 2024, foi determinado pela OAB que os honorários advocatícios mínimos para propositura de um processo de interdição ou defesa em juízo de primeiro grau seja de R$ 7.938,95.
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1) O exercício da curatela: deveres do curador em favor do interditado.
4) 10 coisas que você precisa saber sobre interdição de pessoa
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Sobre o advogado
Advocacia familiar. Advogado especializado em assuntos jurídicos sobre interdição judicial.
Angelo Mestriner é advogado especializado em Direito de Família e Sucessões. É pós-graduado pela USP (Universidade de São Paulo) e pela Faculdade Damásio de São Paulo. É membro do IBDFam (Instituto Brasileiro de Direito de Família). É mediador e facilitador de conflitos, capacitado pela EPM (Escola Paulista da Magistratura). Atua com causas familiares desde o período acadêmico quando iniciou suas atividades de estágio no Escritório Modelo mantido pela Faculdade e, após, no Ministério Público do Estado de São Paulo.
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